sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Brincar

Dia desses fui tomar banho de banheira com minhas filhas. Ficamos lá, feito jacarés, mergulhando devagarinho e soltando bolhinhas na água tépida, mais para fria, pois fazia um calor imenso. De repente a minha mais nova diz, puxa, aqui tá tão gostoso que nem dá vontade de brincar. (Por brincar entenda-se ir para o quarto mexer com as bonecas, levá-las para a escolinha imaginária, pintar, desenhar, enfim, o que der na telha). De vez em quando as crianças nos dão esses presentes-surpresa. Praticamente todas as atividades infantis passam pelo brincar. Elas buscam o prazer mais puro, mais essencial. Abrir mão da brincadeira, no caso da minha filha, significava que o prazer que ela sentia na minha companhia e na da irmã, naquele momento, era ainda maior do que o que ela sente brincando, algo que ela faz o tempo todo. Adoro ser mãe dessas minhas duas filhas tão preciosas. (Tudo bem, eu sei que ainda não cheguei nos pedregulhos da adolescência... mas quem sabe quais as coisas boas que a vida ainda me reserva?).

Pares

Há dias venho pensando em pares. Pares tensos, contraditórios. Pares limites. É dentro deles que vivemos grande parte da nossa existência, a não ser nas poucas vezes em que nos deixamos ir completamente para um ou outro lado. Sem eles, imagino, não haveria vida, não haveria desejo. Abaixo uma pequena lista (depois desenvolvo as idéias e aumento a lista):
1. Vida e morte;
2. Homem e mulher;
3. Branco e preto;
4. Começo e fim;
5. Amor e ódio;
6. Amor e morte;
7. Alegria e tristeza
8. Guerra e paz...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Caixas...





Meu TGI - Trabalho de Graduação Interdisciplinar (antigo nome do trabalho de conclusão de curso, lá na FAU) era uma caixa. Uma caixa-quebra-cabeça, fruto de uma pesquisa (modesta, é claro) a respeito de casas humanas, seus nomes, seus deuses, seu funcionamento, suas simbologias. Fechada ela é um cubo. Aberta, um quadrado. Dentro dela pus muitas sensações, cores, sons, perfumes, idéias, imagens, que eu associava a uma casa. Foi muito divertido bolar seu funcionamento, sonhar e caprichar no seu conteúdo e depois executar as coisas todas a tempo de apresentar e me formar. Tudo acompanhado por muita gente, discutido com a orientadora, os amigos, a família, no boteco, nas rampas da FAU, no departamento de História, na biblioteca. Na época eu vivia com uma mania de fazer origami, montar cartões que se abriam em bolas, semiesferas. (Queria ter conseguido abrir uma casa...) Daí veio a idéia de fenda, fresta, do espiar pelo buraco da fechadura, ver um pouquinho do que se passa do outro lado e imaginar todo o resto. No dia da apresentação (ou defesa, se preferir) agora me dou conta de que a banca era toda feminina. A orientação era da Ciça e acabamos convidando mais duas outras mulheres para a banca. Foi um ritual emocionante, as cadeiras em forma de meia-lua, o texto escrito em papel kraft colado na parede atrás e em cima da mesa, entre o texto e a platéia, a caixa, esperando uma visita, um olhar curioso. Poucas pessoas sabiam como a caixa funcionava, e foi uma experiência bastante divertida ver as professoras da banca (fora a Ciça, que sabia de tudo) discutindo qual a "porta" que deveriam abrir para chegar ao final. Foi um dos dias leves da minha vida. Eu tinha a sensação da missão cumprida, e bem. Estava satisfeita comigo mesma.
Hoje, escrevendo, tento abrir mais algumas das minhas caixinhas. Algumas são caixinhas difíceis, meio bagunçadas, mas não menos cheias de imaginação, curiosidade, vida. Tenho certeza de que dali/daqui sairão fantasmas, fantasias, bolsinhas, paninhos, retalhos, histórias, viagens, idéias esquecidas, mofadas, idéias ultrapassadas, idéias surpreendentes, sonhos, faíscas. O meu quebra-cabeça.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ovo quente 2 ou in vino veritas

Ainda ontem, saí com amigos queridos. Fomos a um lançamento cheio de gente bacana, num bairro pra lá de “bacana” de São Paulo. Depois, resolvemos parar num boteco para comer alguma coisa e bater o papo de verdade, já que lá no lançamento só dava mesmo para fazer uma social (assunto pra outro artigo). Comemos bolinhos de bacalhau, pastéis, tomamos uma cerveja e uma água. Quando vem a conta, OPA! O bolinho de bacalhau tinha preço de ouro, sem falar nos pastéis. Nessas horas, a gente, que é bem-nascida, educada e analisada (te devo essa, F) resolve não falar nada, sai de fino e diz pra gente mesma que NUNCA mais volta a esse lugar onde os preços são um absurdo. Pois bem, só que ontem, bem ontem(!), minha amiga já tinha tido um dia difícil, estava com os nervos à flor da pele ou, como ela mesma disse, sem qualquer auto-censura, já estava bêbada antes mesmo de beber o primeiro copo. Depois de falar tudo o que veio à cabeça para alguns dos ilustres convidados no lançamento, quando viu o preço dos “quitutes” no tal “boteco”, não se conteve. Primeiro chamou o garçom e perguntou, já em tom alterado, se aquele era mesmo o preço dos bolinhos. Quando ele respondeu que sim e que afinal eram DOZE bolinhos, ela fez as contas num átimo, de cabeça (imaginem que ela chegou bêbada antes de beber e depois ainda bebeu um tantão, fazer a conta de cabeça foi mesmo admirável!) e falou que não acreditava que aquele mini-bolinho de bacalhau podia custar TRÊS reais. Daí, lógico, chamou o gerente. Então o bolinho tem ESSE preço? (Pergunta retórica, é óbvio). Ok, EU NUNCA MAIS VOU APARECER NESSE LUGAR! A lucidez da embriaguez, da falta de censura é realmente impressionante. A gente ria de dar nó andando pela rua, enquanto ela se justificava, sem qualquer necessidade. Estava mais do que explicado. Viva a falta de censura! Viva a lucidez! Viva Baco! E olha que eu só bebi água, hem!

Ovo quente

Ontem a lição de casa da minha filha mais velha era escrever uma receita de comida que ela gostasse e que conseguisse escrever no caderno. Sugeri algumas coisas que ela não topou até que achou bacana dar a receita de ovo quente. Isso mesmo, de OVO QUENTE! Parece meio bobo dar uma receita de algo tão simples e prosaico. E no entanto, como podemos fazer qualquer coisa dos mais variados modos, desde as mais simples até as mais complicadas, pensei que talvez não fosse tão bobo assim. Ninguém duvida que um prato sofisticado seja cheio de sutilezas, malícias, jeitinhos. Mas é difícil imaginar isso num simples ovo quente, ou numa mulher com um jeito bem resolvido, ou numa árvore frondosa. Ler a receita do ovo quente da minha filha, em que ela diz até como quebrar a casca e quando dar a primeira colherada me fez pensar que andamos vendo pouco essas sutilezas, esses jeitinhos, essas veredas escondidas nas coisas mais banais da vida.