segunda-feira, 9 de março de 2009

Corte Radical

Quarta-feira. Num ataque de “cinco minutos” resolvo cortar o cabelo. O cabeleireiro chama-se - nome altamente sugestivo - Corte Radical. Quero um corte desigual, com pontas, como as minhas pontas soltas que não consigo conectar. Quero um corte charmoso, feminino, mas com personalidade. Digo isso para a moça e ela me pergunta se pode fazer um corte assimétrico. Digo que sim, que fique à vontade para fazer o que quiser no comprimento e na forma, desde que tenha as qualidades que pedi. Ela pega a navalha e começa a cortar… Diz que raramente viu alguém com tanta coragem de deixar o cabeleireiro ficar tão livre no corte. Sinto-me poderosa. Sou mesmo corajosa. Mas as palavras de um amigo para outro amigo na adolescência ficam martelando minha cabeça: “A Márcia só vai deixar de ser louca quando parar de cortar o cabelo desse jeito”. Enquanto devaneio, a navalha se aprofunda nos meus fios, chega perto da nuca, desfia o topo, o lado, desbasta minha franja, bem curta, bem leve. Tremo. Mas não vou desistir agora. Fiquei com o mesmo corte de cabelo anos a fio, esperando minha loucura passar. E ela não passou. Porque não é loucura. Sou apenas eu. Conto para a cabeleireira sobre minha adolescência. Digo que hoje vejo o quanto o comentário era uma besteira (mas não conto a ela que volta e meia ele ainda me persegue). Ela ri e acrescenta: pois é, isso não tem nada a ver, porque quando a gente corta o cabelo e muda o visual, cria um problema real com o qual tem que lidar. Assim, pode parar de viajar naquelas eternas crises existenciais. Também é. Acho que quero expressar quem eu sou (ou como estou) e faço isso tanto quando escolho uma roupa como quando ponho uma música para tocar ou corto o cabelo. Difícil é os outros aceitarem que a gente é assim mesmo e que isso não é loucura, são só as ondas, os pensamentos, as imprescindíveis metamorfoses da vida de cada um. Emprestando as palavras do Raul: Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

5 comentários:

  1. Marcinha,
    eu já tava achando, mas agora tenho certeza: você é porreta mesmo! Não só de cortar o cabelo de forma não convencional, mais ainda de se expor aqui com essa naturalidade.
    Parabéns, fiquei super feliz,

    Suzana.

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  2. Marcia,
    Como te diz hoje : ADOREI !
    Pronto, está documentado.
    Bjs !
    Sophie.

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  3. O texto tá ótimo, parece que estou ouvindo vc falar. Mas e o cabelo ficou legal?
    bjs

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  4. Tô curioso pra ver seu cabelo! Deve ter ficado ótimo!!!!!

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  5. Eu vi o corte e adorei. Não sei se vc é louca ou radical (e pra falar verdade até espero que de vez em quando vc seja um pouco assim também...) mas, com certeza é corajosa e bonita .... e vou te dizer mais: te aceito com qualquer cabelo, roupa, humor....

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